sábado, julho 15, 2006

...



"O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensaçoes inúteis,
Os amores intensos por o suposto em alguem,
Essas coisas todas
Essas e o que falta nelas eternamente
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem duvida quem deseje o impossível,
Há sem duvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nehum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possivel,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou ate se nao puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah! com que felicidade, infecundo cansaço,
Um supremissimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço... "



* Alvaro de Campos